A proposta para esse texto era pegar uma matéria de jornal, aleatória, e escrever um conto inspirado nela. Foi meio difícil... os jornais não são muito criativos ¬¬ A primeira versão saiu com vários erros, sem parágrafos por exemplo ^^", e nem nota eu recebi. Tive que corrigir o texto. Bom... depois de algum esforço, e várias críticas de amigos (obrigada Moon ^^), consegui chegar a uma versão que me agradasse... embora eu tenha tido que mudar uma parte crucial do texto. Eis a versão corrigida: Enjoy!!! ^^
O navio dos sonhos
Era um homem alto, loiro, na casa dos vinte e poucos anos. Estava irritado naquela noite e chutava caixas enquanto andava pelo cais, com as mãos nos bolsos. “Malditos ricos”. “Maldito navio”. Naquela noite também não haveria reunião com os camaradas e ele precisava de dinheiro. Com o anúncio da viagem inaugural do maldito barco, o porto se tornara o local mais frequentado da cidade. E com os curiosos, é claro que vieram também os policiais, para garantir a integridade dos cidadãos de bem de Southampton.
Ele precisava de dinheiro, mas até que o navio zarpasse e o cais voltasse à sua calmaria costumeira, as apostas estavam suspensas. Ordens do chefe. É claro que não seria difícil comprar um policial, fazê-lo fingir que não viu nada. Mas comprar toda a corporação policial, isso sim estava fora de cogitação. “Malditos ricos”.
A população se aglomerava em frente ao magnífico navio, que, em poucos meses, zarparia rumo à América. Joe ficou olhando aquelas mulheres agitadas, com suas sombrinhas e luvas de seda. Encostado na parede observava como um falcão a procura da sua presa. Então ele a viu. Elisabeth, a vítima perfeita! E como era linda! Sem dúvidas seria um golpe não apenas fácil, mas também agradável. A jovem de cabelos negros, ainda no frescor de seus 17 anos, dava gritinhos e risos de empolgação. Ele a observou por um longo tempo, a seguiu até sua casa, descobriu quem era ela, sua família, seus hábitos e se preparou. Era apenas uma tola sonhadora. Realmente seria muito fácil.
No dia estipulado, ele a seguiu até o centro da cidade, onde ela fazia compras com as amigas. No momento propício, esbarrou nela, deixando cair propositadamente a seus pés uma pasta com várias partituras, que se espalharam pela rua. Com um embaraço previamente calculado, ele se desculpou com uma reverência, tirando o chapéu. As partituras começaram a se espalhar com o vento e ele correu a recolhê-las, como se estivesse lutando pela própria vida. Quando voltou, viu que ela segurava uma das partituras. “Obrigado, senhorita.” “O senhor é compositor?” Perfeito! Ela já estava em sua rede.
Depois daquele encontro, não foi difícil convencê-la de como um pobre artista como ele necessitava de financiamento para poder realizar suas aspirações. Elisabeth tinha certeza de que aquele era o homem de seus sonhos, por quem havia esperado toda a sua vida. O Destino finalmente os havia unido. Completamente apaixonada, dava-lhe dinheiro sempre que ele pedia, sem questionar e sem se importar com as reclamações do pai por seus gastos excessivos.
Numa tarde de primavera, ele lhe mostrou uma partitura, ainda incompleta, dizendo estar compondo algo digno dela, que tinha nome de rainha. Naquela tarde, ela se entregou a ele. Completamente envolvida pela paixão, não foi difícil para os pais descobrirem tudo, proibindo-a de sair de casa e cortando seu acesso ao dinheiro. Ela esperou, ansiosamente, pelo cavaleiro que viria resgatá-la. Mas ele não veio. Ela se desesperou, imaginando todo o tipo de tragédias, e que talvez seus pais tivessem tirado a vida do rapaz para reparar sua honra. Entrou em atrito com os pais em defesa de seu amor e, ao revelar que esperava um filho, foi deserdada e expulsa de casa. “A partir de hoje, eu não tenho mais filha!”
Ela sem demora foi até o quartinho onde se encontrava com Joe. Certamente ele já teria terminado a composição em homenagem a ela. Com o dinheiro conseguido pela obra, eles poderiam se casar e viver felizes, os três. Ao encontrar o quarto vazio, indagou por ele e descobriu que passava os dias em uma casa de má fama na região do porto. Foi até lá, certa de que ele estava se afundando em amargura, aliviando sua dor por perdê-la em um lugar como aquele.
Finalmente o encontrou, sentado em uma mesa de cartas, rodeado por mulheres e bebida. Correu para abraçá-lo, mas recebeu um olhar frio e um empurrão que a jogou ao chão. Tentou se explicar, dizendo que o amava, que jamais o deixaria, que abandonara tudo para ficar ao seu lado e faria absolutamente qualquer coisa por ele. Joe a olhou estupefato e, após alguns segundos, deu uma gargalhada. Percebeu que ela ainda lhe poderia ser útil. “Minha querida, o problema é que enquanto tentava arrumar dinheiro para buscá-la, me endividei com esses senhores. Você estaria disposta a me ajudar a quitar a dívida? Prometo que tão logo tiver o dinheiro, virei buscá-la.”
E assim Elisabeth tornou-se propriedade do bordel. Para quitar a dívida, trabalhava apenas pela comida. Assim que a barriga se tornou evidente, deixou de receber clientes e foi destinada aos serviços de faxina. Elisabeth suportava pacientemente o trabalho pesado, consolando-se na lembrança de que fazia aquilo para salvar seu grande amor.
Foi por volta do 8º mês de gestação que ela o viu, passando às portas do bordel, abraçado a uma jovem garota. Ela gritou por ele. Ignorada, resolveu segui-lo. Ele deixou sua acompanhante em um café ali perto e continuou sozinho pelo emaranhado de vielas e becos que circundavam aquela região portuária. Ela percebeu que conforme iam andando, as ruas ficavam cada vez mais desertas, mas não se importou com isso.
Subitamente, ele parou como se soubesse que estava sendo seguido e esperasse sua aproximação. Ao alcançá-lo, ele a empurrou violentamente contra a parede. Sem equilíbrio, ela tentou se apoiar em algumas caixas que estavam ali, derrubando garrafas vazias de bebida, que se quebraram na queda. “Nunca mais se dirija a mim, sua rameira! Esqueça que eu existo! Está vendo isto? Esse bilhete é o meu passaporte para a liberdade! A América é a terra das oportunidades!” Deu-lhe um safanão e virou as costas.
Elisabeth não conseguia acreditar que aquele era o homem a quem amava, por quem ela havia sacrificado sua família, sua posição, sua fortuna, sua honra, sua alma. Ao tentar levantar-se, cortou a mão nos cacos de vidro e com o sangue que verteu da ferida, pareceu vir à tona toda a mágoa e frustração acumulada nos últimos meses. Pegou uma das garrafas partidas, segurando pelo gargalo e cega pela raiva e pelas lágrimas avançou contra ele, acertando-o na altura dos rins.
Ele gritou, sentindo uma dor lancinante. Quando ela puxou de volta a garrafa, o sangue escapou abundante da ferida, tingindo rapidamente as costas da camisa de um vermelho vivo. Joe tentou andar, fugir dali, mas depois de apenas alguns passos, caiu inconsciente. Elisabeth aproximou-se, olhando-o como se ali estivesse uma barata que tinha acabado de esmagar. Sob o corpo já escorria um filete de sangue. Provavelmente ele morreria devido à hemorragia, mas ela não se preocupou em chamar por ajuda.
Elisabeth pegou o bilhete e decidiu que não tinha mais nada a perder. Na América ela poderia começar novamente, apenas ela e o filho. Quando chegou ao cais, uma multidão se encontrava ali e muitos olharam com repulsa para suas roupas miseráveis. A população estava eufórica, como ela mesma estivera, naquele mesmo lugar, havia menos de um ano. Em meio a vivas e gritos de “Nem Deus afunda o Titanic!”, ela alcançou a escada de embarque. O encarregado não fez perguntas sobre o sangue no bilhete e na lista de passageiros anotou seu nome: Elisabeth Dean.
Depois de poucos dias de viagem, ela começou a sentir dores, embora ainda não fosse o tempo certo. Ajudada pelas outras mulheres da terceira classe, Eliabeth deu à luz uma menina, que chamou de Millvina, em homenagem a sua avó. Uma mulher que carregava um recém-nascido ofereceu o peito ao bebê, que, embora prematuro, sugava com força, mostrando uma enorme vontade de viver. Com o corpo e a alma enfraquecidos, Elisabeth morreu algumas horas depois, desejando que Millvina pudesse obter o que ela não conseguira: uma vida longa e próspera.
Esta é a notícia na qual o conto foi inspirado: Única sobrevivente ainda viva do naufrágio do Titanic, Millvina Dean receberá uma doação de US$ 30 mil de Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, protagonistas do filme, e do diretor James Cameron. Aos 97 anos, Millvina, que era um bebê quando houve a tragédia, está internada em Southampton, a cidade inglesa de onde o Titanic partiu em 1912. Fonte: Zero Hora do dia 12 de maio de 2009.
O navio dos sonhos
Era um homem alto, loiro, na casa dos vinte e poucos anos. Estava irritado naquela noite e chutava caixas enquanto andava pelo cais, com as mãos nos bolsos. “Malditos ricos”. “Maldito navio”. Naquela noite também não haveria reunião com os camaradas e ele precisava de dinheiro. Com o anúncio da viagem inaugural do maldito barco, o porto se tornara o local mais frequentado da cidade. E com os curiosos, é claro que vieram também os policiais, para garantir a integridade dos cidadãos de bem de Southampton.
Ele precisava de dinheiro, mas até que o navio zarpasse e o cais voltasse à sua calmaria costumeira, as apostas estavam suspensas. Ordens do chefe. É claro que não seria difícil comprar um policial, fazê-lo fingir que não viu nada. Mas comprar toda a corporação policial, isso sim estava fora de cogitação. “Malditos ricos”.
A população se aglomerava em frente ao magnífico navio, que, em poucos meses, zarparia rumo à América. Joe ficou olhando aquelas mulheres agitadas, com suas sombrinhas e luvas de seda. Encostado na parede observava como um falcão a procura da sua presa. Então ele a viu. Elisabeth, a vítima perfeita! E como era linda! Sem dúvidas seria um golpe não apenas fácil, mas também agradável. A jovem de cabelos negros, ainda no frescor de seus 17 anos, dava gritinhos e risos de empolgação. Ele a observou por um longo tempo, a seguiu até sua casa, descobriu quem era ela, sua família, seus hábitos e se preparou. Era apenas uma tola sonhadora. Realmente seria muito fácil.
No dia estipulado, ele a seguiu até o centro da cidade, onde ela fazia compras com as amigas. No momento propício, esbarrou nela, deixando cair propositadamente a seus pés uma pasta com várias partituras, que se espalharam pela rua. Com um embaraço previamente calculado, ele se desculpou com uma reverência, tirando o chapéu. As partituras começaram a se espalhar com o vento e ele correu a recolhê-las, como se estivesse lutando pela própria vida. Quando voltou, viu que ela segurava uma das partituras. “Obrigado, senhorita.” “O senhor é compositor?” Perfeito! Ela já estava em sua rede.
Depois daquele encontro, não foi difícil convencê-la de como um pobre artista como ele necessitava de financiamento para poder realizar suas aspirações. Elisabeth tinha certeza de que aquele era o homem de seus sonhos, por quem havia esperado toda a sua vida. O Destino finalmente os havia unido. Completamente apaixonada, dava-lhe dinheiro sempre que ele pedia, sem questionar e sem se importar com as reclamações do pai por seus gastos excessivos.
Numa tarde de primavera, ele lhe mostrou uma partitura, ainda incompleta, dizendo estar compondo algo digno dela, que tinha nome de rainha. Naquela tarde, ela se entregou a ele. Completamente envolvida pela paixão, não foi difícil para os pais descobrirem tudo, proibindo-a de sair de casa e cortando seu acesso ao dinheiro. Ela esperou, ansiosamente, pelo cavaleiro que viria resgatá-la. Mas ele não veio. Ela se desesperou, imaginando todo o tipo de tragédias, e que talvez seus pais tivessem tirado a vida do rapaz para reparar sua honra. Entrou em atrito com os pais em defesa de seu amor e, ao revelar que esperava um filho, foi deserdada e expulsa de casa. “A partir de hoje, eu não tenho mais filha!”
Ela sem demora foi até o quartinho onde se encontrava com Joe. Certamente ele já teria terminado a composição em homenagem a ela. Com o dinheiro conseguido pela obra, eles poderiam se casar e viver felizes, os três. Ao encontrar o quarto vazio, indagou por ele e descobriu que passava os dias em uma casa de má fama na região do porto. Foi até lá, certa de que ele estava se afundando em amargura, aliviando sua dor por perdê-la em um lugar como aquele.
Finalmente o encontrou, sentado em uma mesa de cartas, rodeado por mulheres e bebida. Correu para abraçá-lo, mas recebeu um olhar frio e um empurrão que a jogou ao chão. Tentou se explicar, dizendo que o amava, que jamais o deixaria, que abandonara tudo para ficar ao seu lado e faria absolutamente qualquer coisa por ele. Joe a olhou estupefato e, após alguns segundos, deu uma gargalhada. Percebeu que ela ainda lhe poderia ser útil. “Minha querida, o problema é que enquanto tentava arrumar dinheiro para buscá-la, me endividei com esses senhores. Você estaria disposta a me ajudar a quitar a dívida? Prometo que tão logo tiver o dinheiro, virei buscá-la.”
E assim Elisabeth tornou-se propriedade do bordel. Para quitar a dívida, trabalhava apenas pela comida. Assim que a barriga se tornou evidente, deixou de receber clientes e foi destinada aos serviços de faxina. Elisabeth suportava pacientemente o trabalho pesado, consolando-se na lembrança de que fazia aquilo para salvar seu grande amor.
Foi por volta do 8º mês de gestação que ela o viu, passando às portas do bordel, abraçado a uma jovem garota. Ela gritou por ele. Ignorada, resolveu segui-lo. Ele deixou sua acompanhante em um café ali perto e continuou sozinho pelo emaranhado de vielas e becos que circundavam aquela região portuária. Ela percebeu que conforme iam andando, as ruas ficavam cada vez mais desertas, mas não se importou com isso.
Subitamente, ele parou como se soubesse que estava sendo seguido e esperasse sua aproximação. Ao alcançá-lo, ele a empurrou violentamente contra a parede. Sem equilíbrio, ela tentou se apoiar em algumas caixas que estavam ali, derrubando garrafas vazias de bebida, que se quebraram na queda. “Nunca mais se dirija a mim, sua rameira! Esqueça que eu existo! Está vendo isto? Esse bilhete é o meu passaporte para a liberdade! A América é a terra das oportunidades!” Deu-lhe um safanão e virou as costas.
Elisabeth não conseguia acreditar que aquele era o homem a quem amava, por quem ela havia sacrificado sua família, sua posição, sua fortuna, sua honra, sua alma. Ao tentar levantar-se, cortou a mão nos cacos de vidro e com o sangue que verteu da ferida, pareceu vir à tona toda a mágoa e frustração acumulada nos últimos meses. Pegou uma das garrafas partidas, segurando pelo gargalo e cega pela raiva e pelas lágrimas avançou contra ele, acertando-o na altura dos rins.
Ele gritou, sentindo uma dor lancinante. Quando ela puxou de volta a garrafa, o sangue escapou abundante da ferida, tingindo rapidamente as costas da camisa de um vermelho vivo. Joe tentou andar, fugir dali, mas depois de apenas alguns passos, caiu inconsciente. Elisabeth aproximou-se, olhando-o como se ali estivesse uma barata que tinha acabado de esmagar. Sob o corpo já escorria um filete de sangue. Provavelmente ele morreria devido à hemorragia, mas ela não se preocupou em chamar por ajuda.
Elisabeth pegou o bilhete e decidiu que não tinha mais nada a perder. Na América ela poderia começar novamente, apenas ela e o filho. Quando chegou ao cais, uma multidão se encontrava ali e muitos olharam com repulsa para suas roupas miseráveis. A população estava eufórica, como ela mesma estivera, naquele mesmo lugar, havia menos de um ano. Em meio a vivas e gritos de “Nem Deus afunda o Titanic!”, ela alcançou a escada de embarque. O encarregado não fez perguntas sobre o sangue no bilhete e na lista de passageiros anotou seu nome: Elisabeth Dean.
Depois de poucos dias de viagem, ela começou a sentir dores, embora ainda não fosse o tempo certo. Ajudada pelas outras mulheres da terceira classe, Eliabeth deu à luz uma menina, que chamou de Millvina, em homenagem a sua avó. Uma mulher que carregava um recém-nascido ofereceu o peito ao bebê, que, embora prematuro, sugava com força, mostrando uma enorme vontade de viver. Com o corpo e a alma enfraquecidos, Elisabeth morreu algumas horas depois, desejando que Millvina pudesse obter o que ela não conseguira: uma vida longa e próspera.
Esta é a notícia na qual o conto foi inspirado: Única sobrevivente ainda viva do naufrágio do Titanic, Millvina Dean receberá uma doação de US$ 30 mil de Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, protagonistas do filme, e do diretor James Cameron. Aos 97 anos, Millvina, que era um bebê quando houve a tragédia, está internada em Southampton, a cidade inglesa de onde o Titanic partiu em 1912. Fonte: Zero Hora do dia 12 de maio de 2009.
3 comentários:
E pode ter certeza de que a morte ficou ainda mais legal! hohohohohoho
xD
ficou muito show ^^
gostei mesmo
rsrs no começo nem imagina q seria sobre o titanic!! :D legal .. muito baum!!
ototo
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